Erros que impedem de falar fluentemente – parte 3

Voltamos ao tema dos erros que dificultam a aprendizagem de uma língua. Falaremos sobre novas situações que observamos e tentamos corrigir. Por isso, se ainda não o fez, recomendamos a leitura de Aprender línguas: erros frequentes (parte 1) e Erros que impedem de falar fluentemente – (parte 2)

A metodologia, o professor e o aluno

Antes de avançar com mais casos, gostaríamos de lembrar que a aprendizagem eficaz é como um tripé, em que as pernas são a metodologia, o professor e o aluno. Se um falha, a estrutura cai.

A metodologia é a ferramenta de trabalho do professor de línguas. Se esta não é eficaz, por muito que o professor e os alunos se esforcem, o resultado não será o melhor.

O professor logicamente desempenha um papel importante, pois é ele que usa a metodologia. Se não a usar corretamente, por muito boa que seja a ferramenta que tem nas mãos, o resultado também não será o desejável.

Mas há um terceiro elemento que é muitas vezes esquecido: o aluno. Isto porque há a tendência para achar que um aluno tem melhores resultados do que outro só porque é mais talentoso. Porém, na verdade, não existe “talento” em línguas, pois aprender uma língua não é uma arte, mas sim um método.

O que acontece é que, alguns alunos, consciente ou inconscientemente, aprendem da forma correta, ou porque é a sua forma natural de aprender ou porque já tem experiência a aprender línguas e por isso sabem como fazê-lo. Por isso uma pessoa pode aprender bem matemática ou ciências e ter dificuldades em línguas, pois a sua forma de aprender não se adapta à aprendizagem específica das línguas.

Isto para dizer que frequentemente o professor coloca a responsabilidade na sua metodologia, no seu trabalho ou no talento do aluno, quando na verdade ele apenas não está a estudar e a usar a nova informação de forma eficaz.

Quase sempre ele está apenas a cometer alguns dos erros que nós já falámos ou que vamos falar. Daqui a importância de observar não apenas a metodologia e o trabalho do professor, mas também acompanhar o aluno no seu processo de estudo.

Compensar com vocabulário

Muitas vezes quando os alunos sentem que têm dificuldades na compreensão e expressão, sobretudo oral, acham que a principal causa é a falta de vocabulário. Por isso, focam os seus esforços em aprender palavras e expressões usando diferentes recursos, como aplicações, websites, vídeos e livros.

Normalmente aprendem este vocabulário fora dos contextos, numa lógica de memorização e não de pôr em prática. Ou seja, eles memorizaram mas não puseram em prática e o cérebro torna-se um computador com memória cada vez mais cheia, mas cada vez mais lento, pois não tem capacidade para processar essa informação.

O que importa reter é que nós conseguimos comunicar com muito menos palavras do que achamos. As línguas são flexíveis e é sempre possível expressar uma ideia com palavras diferentes. Então este deve ser o foco: tentar expressar-se o mais eficazmente usando o vocabulário existente.

Em cada aula o professor dá vocabulário suficiente para realizar as atividades e uma parte deste vocabulário não é imediatamente memorizado, por isso caso pretenda melhorar o vocabulário, é sempre melhor voltar às lições anteriores e rever o vocabulário estudado, pois há sempre algo que não foi assimilado.

Desta forma, o aluno tem a garantia de que está a aprender vocabulário útil para o seu nível e que é capaz de o usar num contexto de comunicação.

Medo de não compreender tudo

Uma componente crucial da comunicação é a compreensão oral. Isto porque, se nós não compreendemos o nosso interlocutor, pouco vale conseguirmos construir excelentes frases, pois não estaremos aptos a manter a conversa. Mas o contrário já é válido. Podemos não conseguir ainda construir boas frases, mas se isto for suficiente para expressarmos as nossas ideias e se conseguirmos compreender o que a outra pessoa nos diz, então conseguiremos manter a comunicação.

Porém, da mesma forma que não precisamos de saber todas as palavras de uma língua para falar fluentemente, também não precisamos de compreender todas as palavras que a outra pessoa diz para compreendermos o que ela está a falar. É interessante que, normalmente as palavras que não compreendemos não são palavras-chave na compreensão do sentido. Isto porque as palavras-chave têm a tendência a serem repetidas mais vezes e consequentemente a serem memorizadas mais rápido.

O desenvolvimento da compreensão oral é um processo passivo, pois o nosso cérebro precisa de tempo para processar automaticamente uma língua nova. E precisa de passar por diversas etapas.

A primeira etapa em que se ouve mas não se compreende nada.

A segunda etapa em que se ouve e compreende-se algumas palavras isoladas.

A terceira etapa em que se ouve e compreende palavras e expressões suficientes para perceber qual é o assunto de que se falar.

A quarta etapa em que se compreende as ideias de forma geral. Nesta etapa começa-se a aprender novas palavras através do contexto. E a quinta etapa, em que mesmo ouvindo palavras que não se conhece, não é impedimento para a compreensão de uma ideia mais específica.

O principal erro é que os alunos tentam adiar as primeiras etapas, pois sentem-se desconfortáveis e sem o controlo do processo, quando o foco deveria estar aqui. Por isso, aos alunos que estão nas duas primeiras etapas nós recomendamos que relaxem e não se preocupem, pois como o cérebro precisa de tempo e este não pode ser acelerado.

Conclusão

Neste artigo focámo-nos em dois erros. São um pouco diferentes dos erros de que falámos anteriormente, porque não têm resultados tão imediatos. Porém, com o tempo, certamente terão resultados significativos. Se está a cometer alguns destes erros, dê uma chance a si mesmo e comece a aprenda a língua dos seus sonhos de uma forma mais interessante e agradável.

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