Hoje vamos falar sobre os aspetos mais difíceis para os lusófonos na língua russa (uma das línguas que ensinamos). O objectivo não é assustar, mas sim preparar para aquilo a que devemos dar mais atenção. Também daremos algumas dicas para assimilar estes aspectos mais facilmente.
Casos
Para quem já começou a estudar russo, esta ideia é mais ou menos compreensível, mas para quem ainda não pode parecer estranho. Resumindo, podemos dizer que em português os substantivos e adjectivos têm género (masculino ou feminino) e número (singular e plural). Em russo, também têm quatro formas: masculino singular, feminino singular, neutro e plural. Sobre isto não vamos falar agora.
Do que vamos falar é de casos, pois a estas quatros formas multiplicam-se seis casos. Isto faz com que um substantivo possa, teoricamente, ser escrito de até seis formas diferentes e um adjectivo, doze. Mas relaxe, na maioria das situações são menos.
Posto isto, os seis casos em russo são: o nominativo, o acusativo, o genitivo, o dativo, o instrumental e o preposicional. Resumidamente, pode-se dizer que:
- O caso nominativo corresponde à “palavra original” e é como a encontramos no dicionário;
- O acusativo corresponde ao complemento direto em português e o dativo ao complemento indireto;
- Os outros três correspondem frequentemente a situações nas quais usamos preposições em português.
Exemplos: a bandeira de Portugal (genitivo), comer com colher (instrumental), estar/pensar na Rússia (preposicional).
Para quem está a começar, os casos podem parecer realmente estranhos. Contudo, com o tempo começam a fazer sentido e até a tornar-se convenientes. Por isso, aconselhamo-lo a ser aberto a novas ideias e a desfrutar de uma nova lógica.
Verbos de movimento
Basicamente, em português quase todos os movimentos podem ver expressos com dois verbos: ir e vir.
Se falarmos em transporte, então podemos usar apenas “levar” e “trazer”. Neste aspeto podemos até dizer que o português é fácil. Não é importante se vou a pé, de carro, de barco, de avião, se vou e fico, se vou e volto, se vou várias vezes, etc… Mas em russo é!
A ideia subjacente não é assim tão difícil. Basta ter em conta que “a forma como vamos” em russo importa. Mas escolher qual dos verbos devemos usar para dizer “eu vou” pode ser complicado para quem ainda não tem um certo nível de conversação.
Preposições
Sobre este ponto não vamos falar muito. Basicamente queremos dizer que as preposições são difíceis em qualquer língua, sobretudo se esta é bastante diferente da nossa. Se pensava que o russo era uma língua tão diferente da nossa ao ponto das preposições serem fáceis, infelizmente enganou-se. Neste aspeto podemos dizer que as duas línguas estão mais ou menos ao mesmo nível.
Perfeito e imperfeito
Na verdade o sistema verbal russo é bastante mais simples do que o português. Por exemplo, pense no verbo “fazer” na forma “eu”. Quantas possibilidades existem? “Só” 18!
Em russo existem duas, uma que exprime presente ou futuro e outra que exprime passado. Contudo, os verbos normalmente existem aos pares: a forma perfeita, para ações pontuais no passado e no futuro, e a forma imperfeita, para ações habituais no passado e no presente.
Isto é bem mais fácil do que em português, mas por ser diferente é preciso algum tempo para nos habituarmos.
Verbos com prefixos
Tal como em russo, em português também existem verbos com prefixos. O prefixo mais frequente é o re-, como fazer e refazer ou pôr e repor, que exprime repetição, não existindo muitos mais (lembra-se de algum?). Contudo, em russo existem muitos.
Por exemplo, temos o verbo “dormir” que só exprime isto mesmo e não tem prefixo. Mas em russo, o verbo “dormir” tem prefixos para exprimir “dormir um pouco”, “dormir até não precisar mais”, “acordar”, “adormecer”. Outro exemplo é o verbo trabalhar, que com diferentes prefixos pode significar “trabalhar um pouco”, “trabalhar até ao fim (do “trabalho”)”, “fazer biscastes”, “tratar de algo”, etc…
Mais palavras
Pode-se dizer que em russo existem mais palavras do que em português, o que o torna um língua mais rica. Em português há a tendência de generalizar qualidades e emoções. Por exemplo, “estar chateado” pode ser usado em imensas situações. Em russo estas situações seriam expressas com palavras diferentes.
Também temos a tendência de usar palavras que já temos para formar ideias novas, sobretudo quando se trata de instrumentos. Por exemplo “máquina de lavar a loiça”, “máquina de lavar a roupa”, “máquina de cozer pão” etc… mas em russo existe uma palavra diferente para cada uma delas.
Porém, em alguns casos também perde por generalização. Por exemplo, em russo “ananás” e “abacaxi” são a mesma palavra, o que dificulta pois no momento da compra não sabemos exactamente o que estamos a comprar.
Quão difícil é o russo?
Antes de responder a esta pergunta, é preciso compreender que o grau de dificuldade do russo (e de qualquer língua) depende da língua materna do estudante e das outras línguas que ele tenha conhecimento. Sendo o russo uma língua eslava, obviamente que uma pessoa que fale uma língua eslava, como o ucraniano, o bielorusso ou mesmo o polaco ou o checo, por exemplo, terá mais facilidade.
Além disto, também é sempre necessário ter uma língua de referência. Neste ponto usaremos o inglês, ou seja, compararemos o número de horas que um falante de inglês precisa para aprender o russo, comparativamente às outras línguas.
Posto isto, estamos prontos para responder à questão.
O Instituto do Serviço Exterior (Foreign Service Institute, FSI) do Departamento de Estado dos EUA fez uma previsão do número aproximado de horas que um aluno nativo de inglês necessitaria para alcançar o nível 3. Para ter uma ideia mais exata, abaixo apresentamos as cinco categorias nas quais as línguas foram divididas:
Categoria I: línguas próximas ou semelhantes ao inglês (24-30 semanas, 600-750 horas)
Categoria II: línguas com diferenças linguísticas e/ou culturais em relação ao inglês (36 semanas, 900 horas)
Categoria III: línguas com diferenças linguísticas e/ou culturais significativas em relação ao inglês (44 semanas, 1100 horas)
Categoria IV: línguas que são excecionalmente difíceis para falantes nativos de inglês (88 semanas, 2200 horas)
Consegue adivinhar em que categorias se encontra o russo? Pois bem, este encontra-se na categoria III, considerada um língua difícil, juntamente com outras como o grego e o polaco. Apesar de ser uma das mais difíceis do grupo, o português está na categoria I
Conclusão
Neste artigo quisemos mostrar aquilo que pode parecer mais estranho a um aluno. Esperamos que lhe seja útil e que o prepare melhor para o que o espera na interessantíssima jornada pela língua russa.
Para descomplicar e desmistificar todas as questões, obviamente que a melhor forma é aprender connosco.
Até lá, fique atento aos novos conteúdos e deixe-nos o seu feedback.